Nas últimas décadas, o desenvolvimento dos calçados esportivos vêm sendo uma das mais significantes contribuições da tecnologia e indústria para o mundo esportivo. O calçado esportivo é um equipamento essencial para prática da maioria dos esportes e o seu design e confecção buscam oferecer estabilidade e melhor distribuição de forças, além do conforto e da beleza.
As necessidades do atleta ao escolher um calçado são: Conforto, Proteção, Performance e Moda (Marketing).
O calçado é dividido em quatro partes: Cobertura, Sola, Entressola (pode ser feita de diferentes materiais como ar, gel ou gás e confere qualidade de absorção de impacto), e Palmilha (que é removível e atua na interface pé-calçado).
O calçado ideal deve ser escolhido de acordo com o tipo de pé do atleta e deve ser analisado sob carga (Estática e Dinâmica), de acordo com altura do arco plantar (Alloza JFM, EPM-SP, 2000):
Análise Estática: Cavo, Neutro (60%) e Plano
Análise Dinâmica: Hiperpronado, Neutro e Hipersupinado
A literatura atual confirma que os corredores que apresentam atividade esportiva e regular apresentam: 77% pé neutro; 13% pé plano; e 10% pé cavo.
Definitivamente, o pé não-neutro não pode ser considerado patológico ou fator de impedimento à prática esportiva. A hiperpronação e a hipersupinação podem resultar em problemas funcionais com sobrecarga do sistema musculoesquelético.
Uma boa opção de exame para avaliar os pontos de maior carga no pé durante a pisada é a Baropodometria. Esta fornece informações consistentes aos atletas.
10 Critérios e dicas para a escolha do calçado adequado:
1) Os tamanhos variam de acordo com a marca e o estilo, e um detalhe importante é jamais escolher pelo número indicado no calçado pelo fonecedor e sim como calça no pé;
2) Escolha o modelo mais próximo do formato do seu pé;
3) Meça regularmente o tamanho dos seus pés. Eles podem mudar com a idade;
4) Avaliação bilateral. A maioria das pessoas têm diferença de comprimento entre os pés. Vale a pena sempre experimentar no maior pé;
5) Experimentar no final do dia ou pós-atividade física (por edema);
6) Permanecer de pé e com atenção ao espaço do dedo mais longo (“sobrar” 2,5 cm);
7) A cabeça dos metatarsos deve estar confortável na parte mais larga do calçado;
8) Não comprar justos, esperando que cedam;
9) Calcanhar confortável para oferecer um mínimo deslizamento;
10) Andar com o calçado e ter a certeza de que está confortável.
Quando falamos especificamente dos calçados para corridas, algumas características devem ser respeitadas: Câmara superior macia; Boa flexibilidade; Contraforte resistente; Rigidez torcional; Boa absorção do choque; Solado com baixo peso e Boa tração.
Já os calçados específicos para o Futebol (chuteiras e afins) têm outras características como: Câmara superior resistente, Língua acolchoada e alta, Câmara posterior firme e Solado com cravos de material e tamanho de acordo com a superfície que será praticado (grama fofa x grama seca x grama sintética x etc).
Durabilidade:
Outro critério que deve ser levado em consideração na avaliação de um bom calçado esportivo é a Durabilidade. A troca depende do próprio calçado, do material usado na confecção, das condições e da superfície em que é usado e das características do atleta (peso, estilo da marcha e de jogo).
Um bom tênis de corrida e de esportes praticados em quadra e com mudança de direção constante tem uma durabilidade de cerca de 550 a 800 Km. Se avaliarmos um atleta corredor que treina a uma velocidade de 13 km/h, este demoraria 60 horas para percorrer os referidos 800 km.
Já um jogador profissional de basquete que treina em média 3h/dia, 6 dias/semana, em apenas 1 mês ele atingiria a marca superior a 60 horas.
Comprovando esses dados, Cook SD, em 1985, publicou na AJSM os valores da conservação da capacidade de absorção inicial ao choque dos calçados, e concluiu: Após 50 milhas de uso o calçado só absorve 75% da carga; Após 100-150 milhas absorve 67%; Entre 250-500 milhas, menos de 60%; enquanto acima de 500 milhas apenas 30% de absorção.
Os calçados na origem das lesões:
Eles são importantes ferramentas de prevenção e tratamento de lesões esportivas, participando na absorção e distribuição de energia, além de conferir estabilidade e controle aos movimentos. Está envolvido na gênese das lesões, fator de preocupação para o profissional de saúde e educação física, e gerador de pesquisas e desenvolvimento na indústria desportiva. Além disso está diretamente relacionado ao mecanismo de absorção e distribuição das forças, podendo interferir positiva ou negativamente.
Eles também devem usar o máximo da força de reação do solo, pois parte da performance do atleta depende do calçado. Como exemplo, a cada 100g de peso do calçado corresponde a 1% do gasto energético durante a atividade esportiva.
Outro fator que interfere e reduz a performance é a umidade (suor, água, chuva) no calçado.
A influência do solado: Solas com muito amortecimento podem diminuir a propriocepção do pé, tornando-o mais suscetível a lesões (Barrett HB, Sports Med, 1995). O material do solado altera a atividade muscular durante a corrida, especialmente do reto femoral, bíceps femoral, gastrocnêmio medial e tibial anterior (Wakeling JM, MSSE, 2002).
Uso de Órteses e palmilhas: São dispositivos ou aparelhos ortopédicos usados para suportar, alinhar, prevenir, corrigir deformidades ou para melhorar a função das partes móveis do corpo. Gillespie WJ, Cochrane Review, em 2004 confirmou que as palmilhas usadas para absorção dos choques são úteis na prevenção de fraturas por estresse e síndrome de estresse ósseo.
Conclusão: Com a evolução da tecnologia e a produção de estratégias agressivas de marketing e interesses financeiros se tornou cada vez mais difícil escolha do calçado ideal. Cabe aos profissionais de profissional de saúde, o aprofundamento, esclarecimento e orientação aos atletas e pacientes.
Boa escolha, boa corrida e até a próxima!
Rodrigo A. Goes