Deformidades angulares no joelho pediátrico

Uma queixa muito frequente no consultório de um cirurgião de joelho ou ortopedista pediátrico diz respeito à aflição dos pais quanto ao alinhamento dos membros inferiores dos seus filhos, ou simplesmente: “Dr., as pernas do meu filho estão entortando!”. Na grande maioria dos casos, trata-se da evolução e desenvolvimento natural do joelho da criança como explicarei a seguir e nas fotos.

Vale a pena esclarecer que, ao nascer, as crianças apresentam as pernas arqueadas (geno varo) pela postura uterina (para “ocupar” menos espaço), podendo atingir ate 20 graus.

Essa deformidade aos poucos vai regredindo e ao atingir dois anos de idade os membros inferiores (MI) estão neutros, 0 grau ou alinhados. A partir desse momento, a deformidade começa a se inverter até atingir o máximo do geno valgo (pernas em tesoura), até 15 graus, quando se aproximam dos quatro anos. Daí em diante a angulação irá regredir até atingir o valor definitivo, de cerca de 4-5 graus nos homens e 6-7 graus nas mulheres.

Isso ocorre aos sete anos de idade. Não por coincidência, é também neste período que o sistema nervoso atinge sua total “formação”, “maturação” e a marcha (forma de andar) se tornam definitivas. Por esses motivos é frequente as crianças terem quedas durante a marcha até os sete, oito anos de idade.

Deambular cedo demais pode resultar em problemas

As crianças que apresentarem geno varo após os dois, três anos de idade ou geno valgo acentuado após os sete, oito anos de idade requerem uma atenção e investigação especial.

O ortopedista deve realizar radiografias panorâmicas dos membros inferiores, com carga, mensurar a deformidade (eixos mecânico e anatômico) e avaliar a evolução, confrontando padrões fisiológicos (normais) com patológicos (doença).

As crianças não devem ser incentivadas a deambular antes dos 12 meses de idade e devem fazer rigoroso controle ponderal, pois o sobrepeso associado à carga precoce podem gerar graves problemas no joelho da criança, como a Doença de Blount, que e caracterizada pela deformidade patológica em varo do joelho.

Por outro lado, a deformidade em geno valgo acentuado na adolescência, pode ir muito além da parte estética e se tornar um grande problema psicológico no paciente, especialmente nas meninas, que passam a somente se vestir com calcas e não frequentar lugares públicos como praias e piscinas.

Nesses casos, a correção cirúrgica se torna imperativa, através da hemiepifisiodese medial femoral (e por vezes tibial) temporária, que visa interromper temporariamente o crescimento da parte medial do joelho e fazer com que a deformidade seja corrigida. Essa técnica só pode ser usada enquanto o paciente esta em período de crescimento.

Após a parada do crescimento, as opções para correção angular são mais agressivas, com técnicas de osteotomia valgisante ou varizante, que consistem em “quebrar” parte do osso e fazer a correção, seja com o uso de placas e parafusos ou de um fixador externo e visam à prevenção de problemas secundários no futuro, como dor e artrose.

Na dúvida, os pais devem procurar a opinião em cirurgia do joelho ou ortopedia pediátrica.

O Menisco - Da Avaliação e Lesão ao Transplante

A obra tem como público-alvo estudantes, residentes, ortopedistas e especialistas que buscam maior conhecimento sobre o menisco, sendo uma valiosa fonte de consulta, baseada na literatura científica atual e na experiência clínica dos autores convidados.